Já aqui foi referida, várias vezes, a página de Facebook dos Bacalhoeiros de Portugal - a página dos bacalhoeiros. Assim tantas vezes referida.
Ora, do que me lembro, e sem pedir uma história oficial ao seu único autor, foi mais ou menos assim: Andava eu pelos meandros do Facebook, à procura de fotografias de navios antigos, quando me deparo com esta página. Adicionei. Entre o conhecer o seu autor, e o momento do clicar, só me recordo de comentar algumas fotografias e de assistir a uma belas discussões. A paixão do César Lourenço, o seu fundador e o homem que tem mantido esta chama acesa, é algo que contagia qualquer um. Cresceu no meio dos navios, quando aqueles cais estavam à pinha, picou ferrugem, e passava tardes a sonhar com aqueles Gigantes do Mar. Que inveja.
15 anos de diferença de idade, aliados à minha tardia paixão pelos navios, fazem com que hoje apenas me restem as ponte cais vazias, e um punhado de resistentes para admirar. Sinais do tempo.
Na altura da juventude do César, e sendo ele um gafanhão de gema, era comum nas férias de Verão, passarem no Cais dos Bacalhoeiros para tentarem arranjar um trabalhito a bordo. A ideia era ganharem uns trocos, mas ganhavam muito mais. Creio que o mais importante era o desenvolver do gosto pelos navios e pelo mar. Muitos, mais tarde, embarcariam nesses belos navios.
É importante que as pessoas se sintam ligadas a algo que está na génese da nossa nação. No entanto, hoje, com o maior afastamento que existe, é difícil cultivar esta cultura nas pessoas mais novas. Longe dos olhos, longe do coração.
O que levou o César a abrir a página no Facebook, foi precisamente o vazio que ele sentiu na partilha de fotografias e histórias dos nossos navios do bacalhau. Creio que o resto foi surgindo naturalmente. Muito trabalho e dor de cabeça o atormentaram. Do pouco que pude ajudar, durante este tempo todo, recordo discussões acesas, onde se tentavam discutir pontos de vista diferentes, ou simplesmente se tentava adivinhar qual o navio da fotografia. Recordo também partilhas de histórias, encontro de grandes amigos, partilha de fotografias raríssimas, cheias de informação, e uma vontade crescente em criar algo mais.
Um dos primeiros eventos para divulgar toda esta cultura, foi realizado no Restaurante Porão. Algo que foi aqui noticiado pelo Roda do Leme. Ver aqui - http://www.roda-do-leme.com/2013/05/comemoracao-dos-5000-amigos-da-pagina_19.html
Tinham sido atingidos os 5000 amigos, e a necessidade de festejar esse marco, de forma especial, levou-nos a criar este evento. Creio que dentro dos possíveis correu bastante bem. Contudo, de entre os vários problemas encontrados, o facto do local não ter facilitado as apresentações dos convidados, levou-nos a questionar o seguinte - Estaria na altura de criar uma associação? A minha convicção era essa.
Quase dois anos e 6 meses depois, a ABP - Associação dos Bacalhoeiros de Portugal estava finalmente fundada.
Claro, muito se sucedeu pelo caminho.
Com o advento do AIS, os tais sistemas de localização de navios, criou-se uma onda de pedidos para tentar localizar os navios, talvez como forma de apaziguar os familiares em terra. Nisto, com a ajuda das pessoas amigas da página, conseguiu-se reunir informações de chegadas e saídas previstas para que ninguém perdesse uma chegada, ou até mesmo uma triste saída.
Fora realizados convívios no Jardim Oudinot, para celebrar os aniversários da página. Por esta altura, estava já mais do que criada uma poderosíssima rede de contactos. Uma espécie de rede social, dentro de outra rede social. Havia sido criado algo, não se podia fugir a isso.
O César, por força das circunstâncias, embarcou pela primeira vez no navio "Coimbra". Como a bordo não há internet, sendo esse um luxo reservado apenas a arrastões topo de gama, o nosso trabalho para criar a associação foi sendo adiado.
Assim, em Novembro de 2014, o comandante mandou meter a máquina toda, não havia mais tempo a perder. Reuniram-se pessoas suficientemente empenhas e motivas para levar esta nau a bom porto, e registou-se a mesma, no dia 5 de Dezembro de 2014 - Estava feito.
Porquê? Porque é necessário voltar a motivar, voltar a criar o gosto pelo navios, pelas coisas do mar, voltar a ver os mais novos envolvidos nisto, e os mais velhos com vontade de passar a mensagem. Não se pode deixar morrer toda esta cultura, toda esta paixão. Não posso crer que toda esta mística se esteja a perder. Não posso crer que quem visita o Museu Marítimo de Ílhavo fica indiferente a tudo isto. Há muito a ser feito, por nós enquanto associação, e por todos, enquanto portugueses.
Fica aqui o meu humilde testemunho. Sou o 1º Vogal da Direcção, sócio-fundador e um maluco por estas coisas. Espero estar à altura deste desafio, e espero que o meu cantinho dos navios em Aveiro, o Roda do Leme, também possa contribuir para o crescimento deste projecto ambicioso.
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